Era dia 5 de Setembro de 2007 e o impensável acontecia – Portugal vencia a Letónia no último jogo da fase grupos do EuroBasket e, a 3.1 segundos do final da partida, Marko Tomas marcava um triplo no Croácia-Espanha que não só se tornaria no lançamento da vitória da Croácia mas que significava o apuramento de Portugal para a segunda fase do EuroBasket.
56 anos após a sua última presença de Portugal num EuroBasket, a selecção das quinas atingia o ponto mais alto da sua história. Um cinco inicial com nomes históricos da modalidade como Philippe da Silva, Francisco Jordão, João Santos e Elvis Évora aliados à juventude e irreverência da grande promessa do basquetebol português na altura – João “Betinho” Gomes. No banco, Portugal tinha nomes como Miguel Minhava, Mário Fernandes, Sérgio Ramos (lesionado na partida anterior frente à Croácia apenas votlaria a jogar na partida contra a Grécia), Jorge Coelho, Paulo Cunha, Miguel Miranda e Paulo Simão. Geração de Ouro!
Portugal discutiria até ao final da segunda ronda o apuramento para os quartos-de-final mas perderia contra a Grécia no último jogo dando por terminado o seu torneio. Não importava. Já tinham feito história. Uma equipa de jogadores formados em Portugal tinha-se batido com os campeões europeus em título (Grécia) e tinha deixado um excelente exemplo para as gerações futuras. Com este exemplo não havia volta a dar, o basquetebol português iria crescer e tornar-se cada vez mais competitivo.
Viajamos 13 anos para o futuro.
O campeonato português está em crescendo após meia década de incertezas. A União Desportiva Oliveirense é bicampeã nacional, o Sporting Clube de Portugal está de regresso à liga e o Benfica e o Porto continuam a investir na modalidade, fazendo deste Campeonato o mais competitivo e com mais público dos últimos anos.
Eis que a teoria do caos entra em acção só que, em vez de ser uma borboleta a bater as asas e a causar uma tempestade do outro lado do mundo, é um morcego comido na China que ameaça a sobrevivência do basquetebol português. Se alguém em 2007 dissesse que isto poderia acontecer seria imediatamente internado e sujeito a extensivas análises clínicas.
Juntamos a isto a Lei de Murphy e os patrocínios começam a desaparecer e os estrangeiros voltam para os seus países de origem sem data ou certeza de retorno. Ninguém se engane: os pavilhões têm de continuar a ser mantidos, os salários continuam a ter de ser pagos (jogadores, staff e executivos) e as tardes de ir ao pavilhão ver o clube do coração ou gritar com a televisão começam a parecer uma miragem.
Contrastando o momento mais alto da modalidade com o mais baixo a resposta será sempre dada pelos portugueses. Passará sempre por investir mais na formação nacional e não ter uma liga baseada em 5 iniciais só com norte-americanos. Se são melhores? Sim…por agora, pois tudo é possível.
A aposta no jogador português fica agora mais importante que nunca. Não vai haver fundos para investir em cinco Marcus Norris’, em cino Heshimu Evans’, em cinco Jobey Thomas’ ou em cinco Mario Elie’s pelo que é imperativo a aposta imediata na melhoria das formações a nível nacional. Mostrem a um jovem que ele pode bater-se de igual para igual com qualquer americano e, ao fim de um tempo, esse jovem vai esquecer o igual para igual e trabalhar para lhe ganhar sem discussão.
“Apontem para o céu e chegarão ao tecto. Apontem para o tecto e não passarão do chão”.
É o dever do amante do basquetebol apoiar, como puder, o seu clube e a modalidade e é também o dever dos clubes retríbuir esse apoio com boa gestão e apoio aos milhares de jovens que por este país fora sonham em ser campeões pelos clubes do seu coração. Quid Pro Quo. Relembremos então a Selecção de 2007 que se tornou parte da história por se superar e bater de igual para igual com os melhores sem receio e sem hesitação. Eles deram o mote, resta aos clubes seguirem-no.
Se todos trabalharem internamente para o desenvolvimento da modalidade e dos jovens atletas podemos voltar a brilhar em palcos internacionais. Basta querer!
Artigo de opinião escrito por Guilherme Canavarro
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