Há largas gerações, visionários como Jerry West e Pete Maravich começaram a lançar de cada vez mais longe para surpreender os seus adversários. O aparecimento da linha de triplo na NBA em 1979 (um conceito “emprestado” pela antiga ABA) surgiu, portanto, de forma natural e evolutiva, tendo impulsionado grandemente esta tendência (com a exceção de algumas temporadas nos anos ’90 em que a linha de três pontos foi aproximada do cesto).
Na era moderna, jogadores como James Harden e (principalmente) Stephen Curry mudaram o jogo de uma forma irreversível: atualmente, na época áurea da estatística analítica e do basquetebol como exercício matemático de probabilidades e rentabilidade, lançam-se apenas os lançamentos mais viáveis neste aspeto – as passadas (ou afundanços) e os triplos. Destes dois, apenas um tem potencial de expansão, visto que o lançamento na passada não tem como sair da área restritiva (admito que o nome possa ajudar neste argumento) e tem, por norma, presença defensiva para tentar minimizar os estragos.
O lançamento de três pontos, por outro lado, tem uma grande vantagem. Quanto mais longe se lançar, menor pressão existirá por parte da defesa (particularmente na NBA), o que melhora percentagens. Que o diga Damian Lillard, que nesta temporada (até à sua interrupção) está a lançar 41.2% em lançamentos entre os 30 e 34 pés (9.1 metros e 10.4 metros, respetivamente) de distância do cesto. Para contextualizar, a linha de triplo situa-se a 23 pés e 9 polegadas do cesto (aproximadamente 7.2 metros).
É notório que os jogadores estão a lançar de cada vez mais longe, e a nova escola vai entrando na NBA cada vez mais bem preparada para a linha de três pontos. Assim sendo, porque é que a Liga não dá um passo à frente e implementa uma linha de 4 pontos?

Na verdade, só porque a NBA ainda não oficializou nenhuma decisão relacionada a uma possível linha de 4 pontos não quer dizer que as equipas não se estejam a preparar para isso: algumas equipas da NBA como os Hawks, os Lakers e os Nets já contam com a demarcação nos seus campos de treino e treinam ativamente para uma rápida adaptação pós-implementação.
As equipas sabem que é uma realidade possível, podendo até dar como exemplo a liga BIG3, criada pelo rapper Ice Cube e que conta com vários ex-jogadores da NBA, que tem nas suas regras oficias zonas predeterminadas de 4 pontos que, surpreendentemente (ou não), foram um sucesso.
A decisão final, no entanto, passa sempre por Adam Silver, Comissário da NBA, que não é propriamente contra esta ideia. No entanto, sabe que é um conceito muito polarizante, assim como o foi a introdução da linha de três pontos em 1979: na temporada em que foi introduzida, muitos jogadores se opuseram e as equipas lançavam, em média, 2.3 triplos por jogo (atualmente, mais de 250 jogadores na NBA lançam tantos ou mais triplos por jogo).
Mesmo assim, não é justo comparar o aparecimento (ou possível aparecimento) de ambas as linhas, visto serem situações amplamente diferentes: a evolução do jogo, em 1979, não ia na direção em que o jogo está a ir atualmente. Enquanto que nas décadas de ’70, ’80 e ’90 reinaram as entradas para o cesto e os lançamentos de média distância, privilegiando-se o poste como posição fulcral de uma boa equipa, a partir da década de ’10 deste século a evolução passou por um basquetebol dito “positionless” (sem posições rigidamente definidas, como é o caso dos Houston Rockets) e pela eficácia da escolha de lançamentos. Esta mentalidade de “Threes and Layups” fez com que triplos fossem responsáveis por aproximadamente 50% da totalidade dos lançamentos de campo desta temporada, o que até levou Mark Cuban, dono dos Dallas Mavericks, a sugerir que a linha de triplo fosse posta mais atrás.

Obviamente que os jogadores que mais beneficiariam desta adição são os que mais a apoiam, como é o exemplo de Trae Young, que verbalizou o seu apoio em declarações à imprensa nas vésperas do jogo All–Star deste ano, e de Damian Lillard. No entanto, e como já foi referido anteriormente, este assunto tem várias opiniões e uma delas é de Steve Kerr, treinador dos Warriors e, mais especificamente, de um jogador relativamente bom a lançar, Stephen Curry. Kerr é absolutamente contra a ideia de uma linha de 4 pontos, dizendo que equivaleria a um “circo”, opinião partilhada por Reggie Miller, que não concorda com a mudança de regras na NBA.

O que é que uma linha de quatro pontos significaria? Esta adição levaria a um ritmo de jogo mais rápido (uma espécie de pace and space levado ao limite), a mais pontos marcados, à morte provável do lançamento de média-distância e, muito raramente e com uma pitada de sorte, jogadas de seis pontos.
Quiçá também um novo concurso de lançamentos no fim-de-semana All–Star, mas não sabemos. Aliás, não saberemos nunca, ou pelo menos até a NBA implementar a linha, o que não deve acontecer tão cedo; uma mudança tão radical, nesta altura do campeonato, necessitaria do apoio do público e dos jogadores, além do consenso por parte da própria NBA (através do League Office).
A improbabilidade de acontecer, no entanto, não torna este assunto num assunto morto, antes pelo contrário. É exatamente por podermos especular sem restrições que o debate pela linha de 4 pontos na NBA se tornou num dos mais divertidos desta esfera.
Artigo de opinião escrito por Simão Madeira
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