O fio condutor deste conjunto de artigos será o de analisar o plantel atual e distribuição de minutos, bem como o espaço salarial de cada equipa. Daí, traçar um plano de possíveis trocas, escolhas no Draft e jogadores a assinar na Free Agency para começar a época 2020-2021 e o mesmo para a época seguinte.
O objetivo? Levar esta equipa a dar o passo seguinte: chegar ao topo.
A análise desta semana recairá sobre os Chicago Bulls, equipa cujo recorde esta época foi muito inferior ao seu talento, como nos diriam muitos dos seus fãs.
O lançamento do documentário sobre Michael Jordan deixou os fãs mais atentos aos Bulls. Todos ficamos surpreendidos com o plano de Jerry Krause – iniciar um rebuild numa equipa tricampeã. O que é certo é que desde 1998 esta equipa só conseguiu atingir por três vezes as meias finais de conferência e uma vez as finais de conferência. Parece que o plano não foi muito bem executado, tendo a sorte (neste caso falta dela) um papel a dizer, nomeadamente a lesão de D-Rose em 2012.
Pois bem, esta equipa tem um plantel muito talentoso, como veremos adiante, e que muita gente esperava que chegasse este ano aos playoffs, mas não foi o caso. Tiveram um recorde negativo, com a projeção de acabar a época, caso tivessem sido jogados os 82 jogos regulares, com 27 vitórias e 55 derrotas.
Será que o futuro reserva sucesso? Ou terá sido a decisão de Jerry Krause em 1998 uma que veio arruinar o futuro e lançar sobre a equipa uma maldição – a la Béla Guttmann?
Esperemos que a resposta certa seja a primeira, e tentaremos alcançar isso mesmo com o plano que se segue:
2019/2020
Plantel atual com distribuição de minutos por jogo

Este plantel é composto por jovens estrelas, daí o espanto dos seus fãs por não terem conseguido mais do que 22 vitórias. É certo que lesões impediram a equipa de cumprir todo o seu potencial, mas resulta este recorde da temporada menos conseguida de todos os seus jogadores, a nível individual. O único que esteve à altura das expectativas foi Zach Lavine, que, com 25 pontos por jogo, foi o único da equipa com média acima dos 15 pontos por jogo. Podemos ainda dizer que Coby White deu sinais de grande capacidade ofensiva nos últimos jogos da temporada, mas não foi suficiente para suscitar esperança na sua subida a estrela.
Salários
O Salary Cap é uma construção financeira que tem implicações a nível de contratos de jogadores livres e a nível de trocas entre equipas. É composta pelo valor total com que as equipas estão autorizadas a remunerar os seus jogadores, instituída como forma de controlar custos e garantir paridade entre todas as equipas. Este instrumento é resultado de um acordo entre os donos das equipas, os jogadores e a liga, definido no CBA (Collective Bargaining Agreement – Acordo Coletivo de Trabalho, traduzindo grosseiramente).
Este limite é sujeito a um complexo sistema de regras e exceções e calculado época a época, tendo em conta uma percentagem de lucro da liga referente à época transata. No ano de 2019-20 o Salary Cap foi de $109,140,000. Em 2020-21 estima-se que será $115,000,000. Em 2021-22 $125,000,000. Estes são os níveis de Soft Cap (limite flexível), que permitem que as equipas os ultrapassem, com algumas penalizações monetárias. Isto para que possam manter os seus próprios jogadores quando o seu contrato termine.
Esta figura será utilizada nestes artigos como forma de manter o plano proposto para cada equipa o mais realista possível
Obs: este número será utilizado de grosso modo para tentar balizar as possíveis contratações. Não será a reprodução mais fiel, certamente, mas não afetará a credibilidade do plano.
Espaço usado em 2019: $111.700.000

Os jogadores que saem em 2020:
No verão de 2020 acabam contrato com os Bulls os seguintes jogadores: Kris Dunn (já que este plano prevê que a equipa não o traga de volta), bem como Denzel Valentune e Shaquille Harrison (ambos pelo mesmo motivo).
Também Otto Porter Jr, poderá sair e testar a free agency, mas depois de um ano mau para o que todos esperavam dele, não parece que arrisque perder os 28 milhões de dólares que tem garantidos.
Draft 2020:
Uma figura própria dos desportos Norte-Americanos é o Draft – escolha dada às equipas, por ordem mais ou menos proporcional, de todos os jogadores vindos do desporto universitário que pretendem entrar na liga.
O Draft da NBA pode ser determinante para mudar o futuro de um franchise: que o digam os Chicago Bulls quando escolheram Michael Jordan com a 3ª escolha do Draft de 1984, os Cleveland Cavaliers quando escolheram LeBron James com a 1ª escolha do Draft de 2003 ou os Golden State Warriors, quando escolheram Steph Curry, Klay Thompson e Draymond Green com as 7ª, 11ª e 35ª escolha dos Drafts de 2009, 2011 e 2012, respetivamente. Jogadores estes, entre muitos outros, que trouxeram títulos às equipas que apostaram em si.
É esta a importância que pode ter o Draft.
Os Bulls têm a sua escolha de 1ª ronda em 2020 (projetada no top 7), bem como todas as suas próximas escolhas, conforme demonstrado na imagem abaixo.

Começando então, agora sim, o plano, que jogador selecionar com a escolha neste Draft?
Planearemos a escolha de acordo com a 7ª posição no Draft, a que vêm projetada os Bulls como sua.
Assim sendo, e uma vez que a falha clara nesta equipa é um point guard capaz de defender o melhor base da outra equipa (por oposição a Zach Lavine) e de criar jogo para tantas armas que têm sido mal utilizadas, a escolha certa é Tyrese Haliburton, um base com boa altura, que demonstra excelente potencial defensivo, capaz de criar jogo (teve 6.5 assistências por jogo esta temporada, em Iowa State) e com um lançamento de três pontos consistente.
Com esta escolha estariam os Bulls com o seu backcourt garantido pelos próximos anos, com Haliburton e Lavine, ambos capazes de criar jogo (mais Haliburton do que Lavine), de jogar fora da bola e de marcar muitos pontos.
Trocas no Verão de 2020
Já que é mais do que garantido que Porter Jr aceite o seu ano opcional, e por ter este tido médias de 12/3/2 por jogo, é fácil de concluir que seria uma boa estratégia dos Bulls trocá-lo e tentar garantir jogadores de qualidade que fizessem mais sentido com esta equipa, tanto a nível salarial como a nível de idade e inserção no plantel. Assim, penso que seria possível e benéfico trocarem Otto Porter Jr e Daniel Gafford por Tyus Jones e Gorgui Dieng.

Para uma troca funcionar, esta como qualquer uma na vida, tem de garantir que ambas as partes ficam melhores após a mesma. Sendo assim, porque fariam estas equipas tal troca?
Grizzlies: depois de uma época em que surpreenderam todos e conseguiram chegar (pelo menos por enquanto) à 8ª posição na sua conferência e aos payoffs, seria esta troca uma aposta de baixo risco em Porter Jr, que encaixaria perfeitamente a small forward no plantel de Memphis, sem precisar de ter a bola nas mãos ou de marcar muitos pontos, como era esperado dele em Chicago. Apenas precisa de fazer o que faz melhor – ser um jogador 3&D (marcar triplos e defender), para complementar Jaren Jackson Jr e Ja Morant. Caso não resulte, só o estão a adquirir por um ano e podem sempre tentar encontrar um melhor jogador no vasto mercado de Verão de 2021. Adquirem ainda Gafford, um poste com potencial se for bem aproveitado. Esta aposta é de baixo risco porque, com o crescimento de Ja Morant, Tyus Jones não será uma peça tão insubstituível nos Grizzlies, pelo que com esta troca ainda conseguem garantir mais espaço salarial para 2021.
Bulls: não adquirem nenhuma estrela, é certo. Mas com o preço pago, é valioso garantir um jogador tão confiável como Tyus Jones, que lhes garante mais movimento de bola, poucos turnovers e alguma experiência numa equipa tão em falta dela. Adquirem ainda Dieng, que acaba o contrato no Verão de 2021. Assim, esta troca não estraga a flexibilidade salarial que possam ter em 2021 e garante um plantel mais sólido, com potencial para chegar aos playoffs e finalmente começar a cumprir o seu potencial.
Tentaria ainda uma segunda troca. Já que os Bulls têm a posição de point guard garantida, com Haliburton e Jones, Satoransky não terá lugar neste plante, também graças à sua performance dececionante esta temporada. Então, encontra-se a seguinte troca na posição de lhes garantir mais vitórias nesta temporada, bem como de continuar a acumular bons jogadores no plantel, (talvez avizinhando um futuro com expectativas cada vez maiores): Tomas Satoransky, a escolha de 1ª ronda dos Bulls de 2022 (protegida se top 10) e a escolha dos Bulls de 2ª ronda em 2022 por Terrence Ross.

Para os Magic: depois de épocas consecutivas a verem como seu limite a 1ª ronda dos playoffs, mais cedo ou mais tarde terá que ser hora de apostar mais nos jovens jogadores e abandonar o modelo de equipa atual. Com esta troca vêm menos um ano de salário nas suas contas e trocam um jogador com 30 anos, depois das suas melhores épocas da sua carreira, por uma escolha de 1ª ronda, que podem utilizar ou aproveita numa outra troca e trazem Satoransky como possível mentor de Markelle Fultz, dando espaço aos seus jovens jogadores para tomar conta da equipa.
Para os Bulls: como já referido, adicionam qualidade a uma posição de necessidade e trazem um jogador que pode ser uma peça excelente na rotação quando estiverem prontos para competir. Como se avizinha que esse momento chegue cedo, uma escolha em 2022 não será de tanto valor como inicialmente possa parecer.
Free Agency
A época de Free Agency é a altura em que os jogadores cujo contrato acabou ouvem propostas de equipas que querem contar com os seus préstimos. O principal argumento costuma ser o montante salarial oferecido, bem como a situação da própria equipa.
Nesta época, não estaria preocupado em conseguir nenhum dos jogadores disponíveis, antes em garantir continuidade na equipa. Dessa forma, seria a melhor estratégia, começar as conversas com Lauri Markannen para renovar o seu contrato, que pode acabar no Verão seguinte. Oferecia 15 milhões de dólares por ano num contrato de 4 anos, aproveitando que ainda não mostrou todo o seu potencial para conseguir garantir a sua presença a um preço que se pode revelar baixo para o seu contributo.
Poderia também tentar assinar um point guard experiente, pelo mínimo, dentro dos moldes de Matthew Dellavedova, que vem trazer a esta equipa experiência de campeão, em 201, pelos Cavs.
2020/2021
Possível equipa e eventual distribuição de minutos
Na época de 2020-2021, depois de nem sequer terem uma oportunidade de entrar na corrida pelos play-offs, os Bulls têm de vir com uma mentalidade vencedora. Para isso devem contribuir Ross, Jones, Dellavedova, jogadores que irão ter papéis diferentes dentro de campo, mas com iguais responsabilidades fora dele: liderar esta jovem equipa à post season e ajudar todos os seus colegas a atingir o seu potencial.
Com esse objetivo em mente, distribuiria os minutos da seguinte forma.

Vemos bons minutos a serem dados aos jogadores jovens, garantindo-lhes tempo de jogo suficiente para se desenvolverem. Ao mesmo tempo, minutos suficientes aos jogadores mais experientes para ser esta uma equipa vencedora.
Se esta equipa conseguir chegar aos playoffs, com a 8ª posição, talvez até a 7ª, tem capacidade para surpreenderem uma equipa na 1ª ronda e assim começarem a ter experiência nos jogos mais exigentes, construindo assim uma base sólida para o futuro.
Que jogadores saem
No verão de 2021, os jogadores a sair seriam Gorgui Dieng, Luke Kornet e Cristiano Felicio.
Draft – que picks e o que fazer com elas
No Draft de 2021, os Bulls teriam uma escolha talvez entre a 12ª e 18ª, já que tentariam atingir os playoffs, como vimos. Assim, penso que o jogador certo para esta equipa seria um point guard, para desenvolver atrás de Tyus Jones e Tyrese Haliburton.
Free Agency
Assim ficariam os Bulls com cerca de 27,5 milhões de dólares em espaço salarial nesta Free Agency. Com que jogadores assinar? É uma pergunta importante, mas penso ser altura de tentar mais uma troca:
Para uma época de 2021-2022 que se avizinha competitiva para esta equipa, penso que conseguiriam bater-se melhor com as equipas de topo se tivessem uma melhor capacidade defensiva. Por muito que o jogo consista em marcar a bola no cesto adversário, é também muito importante garantir que a bola não seja encestada no nosso. É por esta razão que a melhor troca seria Coby White, Chandler Hutchinson, uma escolha de 1ª ronda (protegida se for Top 5) em 2024 e duas escolha de 2ª ronda, em 2024 e 2025 por Aaron Gordon.

Para os Bulls: recebem um jogador jovem mas já experiente, que esteve numa equipa onde não viu os seus talentos aproveitados ao máximo, tendo demonstrado imenso potencial ofensivo e já uma capacidade defensiva capaz de se bater com os melhores forwards da liga. Recebem-no com um ano de contrato, pelo que se não resultar não têm a obrigação de reassinar com ele, e se der frutos, podem oferecer uma extensão e aproveitar esta troca ao máximo. É certo que perdem White e Hutchinson, dois jovens talentosos, com imenso potencial, mas se querem competir por algo e ser uma equipa temida, o dia terá de chegar em que abdicam de desenvolver promessas e apostam em jogadores já consagrados. E é este o dia
Para os Magic: como falamos acima, será tempo de desenvolver os jovens jogadores, e a posição de Gordon é uma que já têm preenchida com bastante talento. Custa ver sair um jogador em quem tinham tantas expectativas, mas terá 26 anos, pelo que já não se encaixa no modelo de equipa em que estarão a apostar, ao contrário de dois jovens muito promissores em White e Hutchinson, bem como três escolhas.
Como vemos na imagem acima, fica a equipa de Chicago com menos 5 milhões de dólares em espaço salarial, ficando com 17,5 milhões disponíveis.
Tentaria então endereçar as posições que estão em falta: um small forward/power forward com mentalidade ofensiva, para complementar Gordon e esconder algumas das fragilidades de Lavine e Markkanen – o melhor (potencialmente) disponível será Jerami Grant (mesmo que não consigam efetivamente este jogador em concreto, devem tentar um do mesmo molde), que devem conseguir convencer com um contrato de 12 milhões por 3 anos.
Com o espaço restante apostaria num center, capaz de jogar com Markannen ou Carter Jr, já experiente e permutável com qualquer um deles. Penso que Kelly Olynyk seria uma boa aposta, pela sua experiência em Boston e Miami.
Para preencher os restantes lugares no plantel tentaria contratar outro center veterano, como seguro contra lesões e voz da experiência, aqui personalizado em Javale McGee.
2021/2022
Plantel e eventual distribuição de minutos

E chegamos ao último ano deste plano. As mudanças estão concluídas e penso que acabam com um bom plantel. Têm imenso poderio ofensivo com Zach Lavine, Lauri Markkanen, Terrence Ross (capazes de incendiar um jogo da linha de 3 pontos e de feitos incríveis ofensivamente), bem como excelente capacidade defensiva, em Gordon, Carter Jr, Grant, Jones, entre outros.
Com este plano não perderam flexibilidade futura caso esta equipa não cumpra as expectativas, nem a nível salarial nem a nível de picks no Draft.
Pelo contrário, tornaram-se concorrentes ao topo da Conferência Este, com um marcador principal em Lavine e bastantes lançadores de 3 pontos e bons defesas à sua volta, sendo que qualquer um poderá desenvolver e tornar-se numa 2ª estrela para o shooting guard, um pouco à imagem dos Lakers de 2008-2010, com as devidas distâncias entre Lavine e Kobe Bryant, obviamente.
Penso que têm mesmo hipótese de ter uma excelente época, tanto em 2021-22 como por muitos anos, devido à media de idades razoavelmente baixa, e colocaram-se em posição de chegar a umas Finais de Conferência, quem sabe avançar e a partir daí, a bola é redonda…
Seria assim que conduziria esta equipa para fora da No Man’s Land.
Espero que tenham gostado deste formato e agradeço desde já pelo feedback: estou ansioso por saber que outros planos teriam para esta equipa e com o que é que concordam e não concordam.
Artigo de opinião escrito por Tiago Belinha
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