O fio condutor deste conjunto de artigos será o de analisar o plantel atual e distribuição de minutos, bem como o espaço salarial de cada equipa. Daí, traçar um plano de possíveis trocas, escolhas no Draft e jogadores a assinar na Free Agency para começar a época 2020-2021 e o mesmo para a época seguinte.
O objetivo? Levar esta equipa a dar o passo seguinte: chegar ao topo.
A análise desta semana recairá sobre os New York Knicks. Esta equipa é a chacota da NBA há demasiado tempo. Só chegou aos playoffs por 5 vezes, nos últimos 20 anos. Tem um historial de más decisões a nível empresarial, a nível de pessoal e ao nível das equipas que constrói. Raramente toma uma decisão que seja apreciada pelos seus fãs. As últimas das quais: escolher Kevin Knox em 2018 (quando podia ter escolhido Shai Gilgeous-Alexander, Michael Porter Jr, entre muitos outros melhores que Knox); tornar impossível a convivência com Porzingis, de modo a ter de trocá-lo muito abaixo do seu valor à época; trocar metade da equipa por Carmelo Anthony quando podiam ter conseguido o extremo no mercado livre, apenas 6 meses depois. Como qualquer fã dos Knicks saberá, não é pela inteligência e sentido de oportunidade que o front office se destaca. Tentemos alterar isso e retirá-los da longa no man’s land em que se vêm cada vez mais enterrados.
Vejamos então que solução terá esta equipa, com o plano que se segue:
2019/2020
Plantel atual com distribuição de minutos por jogo

Os Knicks tiveram um dos piores recordes da liga e não foi por acaso. O melhor jogador, Mitchell Robinson, não consegue jogar minutos suficientes porque ainda não teve treino suficiente em não ultrapassar o limite de faltas por jogo, apesar de ter batido esta época o recorde em percentagem de lançamento do campo, com 0,742%. RJ está num papel em que é obrigado a fazer mais do que o que sabe, pelo menos para um jogador de primeiro ano. Não há um lançador de 3 pontos capaz nesta equipa. Têm das piores defesas da liga. Tudo isto com uma folha salarial das mais confusas possíveis. Assinaram imensos power forwards e shooting guards, de forma a ser e impossível desenvolver os seus jovens talentos. Foi uma época confusa, sem rumo, que resultou numa reestruturação na equipa técnica e direção e que nos vai levar a tentar dar a volta a esta equipa.
Salários
O Salary Cap é uma construção financeira que tem implicações a nível de contratos de jogadores livres e a nível de trocas entre equipas. É composta pelo valor total com que as equipas estão autorizadas a remunerar os seus jogadores, instituída como forma de controlar custos e garantir paridade entre todas as equipas. Este instrumento é resultado de um acordo entre os donos das equipas, os jogadores e a liga, definido no CBA (Collective Bargaining Agreement – Acordo Coletivo de Trabalho, traduzindo grosseiramente).
Este limite é sujeito a um complexo sistema de regras e exceções e calculado época a época, tendo em conta uma percentagem de lucro da liga referente à época transata. No ano de 2019-20 o Salary Cap foi de $109,140,000. Em 2020-21 estima-se que será $115,000,000. Em 2021-22 $125,000,000. Estes são os níveis de Soft Cap (limite flexível), que permitem que as equipas os ultrapassem, com algumas penalizações monetárias. Isto para que possam manter os seus próprios jogadores quando o seu contrato termine.
Esta figura será utilizada nestes artigos como forma de manter o plano proposto para cada equipa o mais realista possível
Obs: este número será utilizado de grosso modo para tentar balizar as possíveis contratações. Não será a reprodução mais fiel, certamente, mas não afetará a credibilidade do plano.
Espaço usado em 2019: $103.600.000

Os jogadores que saem em 2020:
No verão de 2020 acabam contrato com os Knicks os seguintes jogadores: Mo Harkless e Bobby Portis (assumindo que a equipa rejeita o seu ano opcional, o que é o mais provável).
Draft 2020:
Draft Picks
Uma figura própria dos desportos Norte-Americanos é o Draft – escolha dada às equipas, por ordem mais ou menos proporcional, de todos os jogadores vindos do desporto universitário que pretendem entrar na liga.
O Draft da NBA pode ser determinante para mudar o futuro de um franchise: que o digam os Chicago Bulls quando escolheram Michael Jordan com a 3ª escolha do Draft de 1984, os Cleveland Cavaliers quando escolheram LeBron James com a 1ª escolha do Draft de 2003 ou os Golden State Warriors, quando escolheram Steph Curry, Klay Thompson e Draymond Green com as 7ª, 11ª e 35ª escolha dos Drafts de 2009, 2011 e 2012, respetivamente. Jogadores estes, entre muitos outros, que trouxeram títulos às equipas que apostaram em si.
É esta a importância que pode ter o Draft.
Os Knicks têm a 8ª escolha de 1ª ronda em 2020, bem como todas as suas próximas escolhas, conforme demonstrado na imagem abaixo, para além de escolhas dos Clippers e Mavs que adquiriram em trocas.

Começando então, agora sim, o plano, que jogador selecionar com a escolha neste Draft?
A posição que falta aos Knicks é point guard, sem sombra de dúvidas. Mas como essa necessidade vai ser satisfeita através da Free Agency, optaremos por selecionar o melhor jogador possível na 8ª posição, segundo o previsto. Dessa forma, os Knicks fariam a escolha certa ao selecionar Obi Toppin: extremo, melhor jogador universitário do ano, considerado por muitos o jogador ofensivamente mais preparado para contribuir na NBA, um campo em que os Knicks precisam de toda a ajuda.
Com a escolha proveniente dos Clippers, a 27ª escolha, os Knicks adorariam poder adicionar ao plantel Tyler Bey, extremo defensivo com capacidade para atirar de 3 pontos eficientemente.
Trocas no Verão de 2020
A troca mais esperada pelos Knicks, por vários fatores, é aquela que veria Chris Paul a chegar a Nova Iorque. Mas como o objetivo do artigo é retirar a equipa da No Man’s Land, não seria grande ajuda trocar por um base a envelhecer que, apesar de toda a sua capacidade de ainda ser o melhor jogador num jogo com James Harden e Westbrook (como mosrou no Jogo 6 da 1ª ronda dos playoffs), requer um salário de 41 e 44 milhões de dólares nas épocas em que tem 35 e 36 anos.
Assim, a posição de point guard será preenchida por Fred VanVleet, como falaremos mais à frente.
Para já, outras arrumações estão em ordem. Assim:
De forma a deixar os jovens jogadores ter espaço para brilhar, Julius Randle seria trocado por Kendrick Nunn e Andre Iguodala, adquirindo os Knicks talento jovem no backcourt com uma presença veterana em Iguodala pelo curto período de uma época e dando oportunidade aos Heat de terem um pouco mais poder ofensivamente, à custa de um jovem e bom base, mas numa posição que têm em abundância.

Na maior troca desta perspetivada offseason, os Knicks aproveitariam o seu excesso de escolhas no Draft e excesso de maus contratos para adquirir, dos Suns, Kelly Oubre Jr, por Taj Gibson, Elfrid Payton, a escolha de 1ª ronda em 2021 dos Mavs e a escolha de 2ª ronda dos Hornets em 2021. Para os Knicks, trazia uma potencial estrela ofensiva e defensiva em Oubre Jr, alguém que é capaz de elevar imediatamente as expectativas para esta equipa e, em troca, os Suns aproveitam a enchente que têm nessa mesma posição e trocam o ano restante no contrato de Oubre para garantirem mais um point guard experiente que faz sobressair o melhor em Devin Booker, bem como duas escolhas que pode fazer ou, eventualmente, trocar. Para os Knicks, mesmo que Oubre abandone a equipa no ano seguinte, quando acaba o seu contrato, não trocaram nenhuma peça fundamental do seu futuro. Se resultar para ambas as partes, adquirem a troco de praticamente nada um excelente jogador.

Por fim, como forma de se livrarem de jogadores que não iriam ter lugar na rotação, trocariam Dennis Smith Jr e Wayne Ellington pelo último ano no contrato de Cody Zeller, atendendo assim a necessidade de um backup center capaz, ao mesmo tempo que os Hornets se livram dos minutos de Zeller, em prol do promissor center que esperam escolher no Draft.

Free Agency
A época de Free Agencyé a altura em que os jogadores cujo contrato acabou ouvem propostas de equipas que querem contar com os seus préstimos. O principal argumento costuma ser o montante salarial oferecido, bem como a situação da própria equipa.
O objetivo dos Knicks para esta época, como as trocas indiciam, é deixar de ter um recorde perdedor. Não estão a conseguir construir através do Draft, portanto não há vantagens em ser das piores equipas da liga há já vários anos. Assim, seria imperial começar a construir uma mentalidade vencedora, sem nunca apostar demasiado no modo win now, mas tentando chegar aos playoffs e aproveitar uma futura oportunidade, ao estilo do que fizeram os Clippers nas últimas épocas.
Nesta época, tentaria então obter os serviços de Fred VanVleet, um point guard campeão, com a mentalidade certa, ofensiva e defensivamente, ainda novo mas já um líder e com experiência para ensinar a este jovem plantel o que é preciso para vencer. Para o convencer seria necessário um contrato à volta de 100 milhões de dólares distribuídos ao longo de 4 épocas.
Para a ocupar o lugar de shooting guard suplente, uma mão firme de 3 pontos, capaz defensivamente, o veterano Justin Holiday, que tem demonstrado nas últimas épocas capacidade de se chegar à frente quando a sua equipa precisa de pontos marcados. Penso que um contrato de 24 milhões de dólares ao longo de 3 épocas será o suficiente.
2020-2021
Possível equipa e eventual distribuição de minutos

Como já referido, o objetivo será chegar aos playoffs e finalmente dar alegrias aos seus fãs. Com este plantel, é perfeitamente possível e até mesmo provável que aconteça. Com a experiência de VanVleet, Iguodala e Holiday e a juventude e irreverência de Barrett, Nunn, Oubre Jr, Toppin e Robinson, esta equipa tem tudo para vencer pelo menos 40 jogos na Conferência Este, enquanto garante estar preparada para o futuro. Será um ano para se ambientarem uns aos outros, aprenderem a jogar em equipa e desenvolverem o seu estilo de jogo debaixo da alçada de um dos melhores treinadores defensivos da liga, Tom Thibodeau.
Que jogadores saem.
No verão de 2021, acabam contrato Cody Zeller, Andre Iguodala (já que os Knicks rejeitariam com certeza o seu ano opcional), Reggie Bullock e Damyean Dotson. Quando a Kelly Oubre Jr, caso encaixe no estilo de jogo e mostre o que vale na temporada de 2020-2021, os Knicks devem recompensa-lo com um contrato na ordem dos 45 milhões de dólares ao longo de 3 temporadas.
Seria também a altura ideal (talvez antes de um breakout year que aumentaria o valor pretendido) para prolongar os contratos de Kendrick Nunn (algo na casa dos 12 milhões por ano durante três anos)e Mitchell Robinson (também na casa dos 12/13 milhões por ano durante três/quatro anos).
Draft – que picks e o que fazer com elas
No Draft de 2021, os Knicks terão uma escolha no meio da tabela, segundo o previsto aqui. Dessa forma, basta determinar que a posição que devem endereçar será a de um power forward/center suplente, para ocupar os minutos em que Mitchell Robinson e/ou Obi Toppin estejam no banco.
Free Agency
Conforme o quadro abaixo ilustrará, esta equipa já não tem uma falha enorme em qualquer posição no plantel, de maneira que quase nenhum jogador disponível se encaixe aqui, a não ser para aumentar a profundidade. Assim, precisam os Knicks de dois extremos e um poste suplentes para garantir rotatividade no plantel, apesar de não ser essa a filosofia de Thibodeau, como os fãs dos Bulls e Timberwolves saberão. Com os 25 milhões que estimo sobrarem, tentaria então assinar contrato com Rodney Hood, JaMychal Green e, pelo mínimo de veterano, Ed Davis.
2021-2022
Plantel e eventual distribuição de minutos

Estamos no último ano deste plano. As mudanças estão terminadas e seria assim que os New York Knicks entrariam na época de 2021-2022: um plantel maioritariamente jovem, sem estar amarrada a nenhum contrato pesado a não ser os 25 milhões que devem a Fred Van Vleet por mais três épocas, com objetivos bem definidos. Esta época o objetivo seria melhorar o recorde da anterior, quiçá chegar à segunda ronda dos playoffs e ir desenvolvendo o seu modo de jogo e mentalidade. No futuro, quem sabe alguma estrela descontente queira levar os seus talentos para Nova Iorque, quem sabe algum dos seus jovens jogadores se revele essa mesma superestrela, quem sabe esta exata equipa consiga surpreender muitos e chegar mais longe do que o esperado, quem sabe.. Mas o que sabemos é que este nos parece o melhor plano para tirar os Knicks do pântano financeiro e desportivo em que se encontravam. Sem comprometer o futuro, apostar no presente.
Seria assim que conduziria esta equipa para fora da No Man’s Land.
Espero que tenham gostado deste formato e agradeço desde já pelo feedback: estou ansioso por saber que outros planos teriam para esta equipa e com o que é que concordam e não concordam.
Artigo de opinião escrito por Tiago Belinha
(escrito antes da realização do NBA Draft 2020)
Tabelas – Sofia Castro: sofiamsscastro@gmail.com
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