O fio condutor deste conjunto de artigos será o de analisar o plantel atual e distribuição de minutos, bem como o espaço salarial de cada equipa. Daí, traçar um plano de possíveis trocas, escolhas no Draft e jogadores a assinar na Free Agency para começar a época 2020-2021 e o mesmo para a época seguinte.
O objetivo? Levar esta equipa a dar o passo seguinte: chegar ao topo.
A análise desta semana recairá sobre os Detroit Pistons. Esta é uma equipa que não tem mais vitórias do que derrotas desde 2016 e que não avança da primeira ronda dos playoffs desde 2008! Desde então até este transato ano foi a definição de uma equipa em no man’s land. Não ganhou suficiente para fazer estragos nos playoffs mas também não foi má o suficiente para se dedicar a desenvolver jovens jogadores. Nesta última temporada, também pela lesão de Blake Griffin, foram isso mesmo: maus. Maus mas preocupados com o desenvolvimento dos seus principais jovens jogadores (Sekou Doumbouya e Luke Kennard) e até contaram com algumas surpresas (Christian Wood e Bruce Brown).
Têm parecido a equipa em pior posição na NBA, por falta de talento e pelo espaço salarial completamente ocupado, por contratos assumidos com a intenção de ganhar, mas que nunca se mostraram o suficiente. Assim, serão difíceis os próximos anos enquanto fã dos Pistons e será também difícil construir o plano que se segue. Seguirá uma abordagem um pouco diferente, talvez mais realista. É certo que na época de 2021-2022, os Pistons não chegarão aos playoffs (pelo menos não serão mais do que uma equipa surpresa que é eliminada na primeira ronda, se efetivamente lá chegarem), mas este plano tentará coloca-los no caminho certo para fora da eterna no man’s land em que têm permanecido.
Vejamos então que solução terá esta equipa, com o plano que se segue:
2019/2020
Plantel atual com distribuição de minutos por jogo

Esta equipa não foi bem sucedida este ano. Trocaram Drummond a troco de quase nada (o primeiro vislumbre que tivemos da sua intenção de começar, finalmente, o rebuild). Talvez tenha sido “algo de mau que veio para bem” a lesão de Blake, já que permitiu a Sekou e Christian Wood ter mais minutos e demonstrarem o potencial e qualidade que têm. Luke Kennard finalmente realizou o seu potencial, tendo obtido médias de 16 pontos, 4 assistências e quase 3 triplos por jogo, com grande eficiência. Derrick Rose teve outra época fantástica (para a sua nova realidade, é claro). Ainda assim, não podemos dizer que este plantel augure grandes feitos no presente ou no futuro. Por isto mesmo, tentaremos responder à pergunta que os fãs dos Pistons têm feito há anos: qual será o futuro desta equipa?
Salários
O Salary Cap é uma construção financeira que tem implicações a nível de contratos de jogadores livres e a nível de trocas entre equipas. É composta pelo valor total com que as equipas estão autorizadas a remunerar os seus jogadores, instituída como forma de controlar custos e garantir paridade entre todas as equipas. Este instrumento é resultado de um acordo entre os donos das equipas, os jogadores e a liga, definido no CBA (Collective Bargaining Agreement – Acordo Coletivo de Trabalho, traduzindo grosseiramente).
Este limite é sujeito a um complexo sistema de regras e exceções e calculado época a época, tendo em conta uma percentagem de lucro da liga referente à época transata. No ano de 2019-20 o Salary Cap foi de $109,140,000. Em 2020-21 estima-se que será $115,000,000. Em 2021-22 $125,000,000. Estes são os níveis de Soft Cap (limite flexível), que permitem que as equipas os ultrapassem, com algumas penalizações monetárias. Isto para que possam manter os seus próprios jogadores quando o seu contrato termine.
Esta figura será utilizada nestes artigos como forma de manter o plano proposto para cada equipa o mais realista possível
Obs: este número será utilizado de grosso modo para tentar balizar as possíveis contratações. Não será a reprodução mais fiel, certamente, mas não afetará a credibilidade do plano.
Espaço usado em 2019: $129.800.000
- Os jogadores que saem em 2020:
No verão de 2020 acabam contrato com os Pistons os seguintes jogadores: Brandon Knight; John Henson; Langston Galloway; Thon Maker (assumindo que a equipa rejeita o seu ano opcional); Jordan McRae.
A tabela acima mostra que Christian Wood também termina o seu contrato, mas abordaremos esse assunto seguidamente.
Draft 2020:
Draft Picks
Uma figura própria dos desportos Norte-Americanos é o Draft – escolha dada às equipas, por ordem mais ou menos proporcional, de todos os jogadores vindos do desporto universitário que pretendem entrar na liga.
O Draft da NBA pode ser determinante para mudar o futuro de um franchise: que o digam os Chicago Bulls quando escolheram Michael Jordan com a 3ª escolha do Draft de 1984, os Cleveland Cavaliers quando escolheram LeBron James com a 1ª escolha do Draft de 2003 ou os Golden State Warriors, quando escolheram Steph Curry, Klay Thompson e Draymond Green com as 7ª, 11ª e 35ª escolha dos Drafts de 2009, 2011 e 2012, respetivamente. Jogadores estes, entre muitos outros, que trouxeram títulos às equipas que apostaram em si.
É esta a importância que pode ter o Draft.
Os Pistons têm a sua escolha de 1ª ronda em 2020 (projetada no top 5), bem como todas as suas próximas escolhas.
Começando então, agora sim, o plano, que jogador selecionar com a escolha neste Draft?
Planearemos a escolha de acordo com a 5ª posição no Draft, a que vêm projetada os Pistons como sua.
Assim, não podendo escolher Lamelo Ball (a escolha ideal para esta equipa, mas que requereria a sorte da escolha calhar no 1º ou 2º lugar na Lotaria do Draft), o melhor jogador para esta equipa é Kilian Hayes, point guard francês com excelente potencial ofensivo, muito confortável com a bola nas mãos e capaz de liderar o ataque duma equipa. Faz lembrar D’Angelo Russell, mas com capacidade atlética superior e com vontade de defender.
Seria a escolha mais lógica já que o plano passará por trocar Derrick Rose, que ocupou a posição este ano. Apesar da sua qualidade e da época que teve, a sua idade não se coaduna bem com o plano da equipa para os próximos anos.
Trocas no Verão de 2020
Conforme referido, a primeira troca a ser feita é aquela que permita aproveitar o valor que Derrick Rose traz a uma equipa com aspirações de vencer. Assim, penso ser a seguinte troca benéfica para ambas as equipas: Derrick Rose e Tony Snell (que aceitará com certeza o ano opcional no seu contrato) por Bogdan Bogdanovic (teriam ambas as equipas e o jogador de chegar a termos para um novo contrato, já que o seu acaba este ano – 53 milhões de euros ao longo e 3 anos parece justo e permite provar o seu valor numa equipa em que assuma um papel mais relevante).
Para uma troca funcionar, esta como qualquer uma na vida, tem de garantir que ambas as partes ficam melhores após a mesma. Sendo assim, porque fariam estas equipas tal troca?
Pistons: Rose não encaixa nos planos da equipa e Snell não tem sido mais que um jogador da rotação, não se destacando em nenhuma área do jogo. Ambos os jogadores estão no seu último ano de contrato, pelo que iam acabar por sair da equipa no Verão de 2021. Em Bogdanovic recebem um jogador que já tem vindo a mostrar vislumbres de uma capacidade ofensiva única, sendo capaz de distribuir jogo, jogar sem a bola nas mãos e de defender. Aproveitam a falta de espaço em Sacramento para lhe oferecerem um contrato talvez um pouco acima do seu valor de mercado, mas que mostra a aposta que fazem no seu talento, que acompanhará a equipa nos próximos anos.
Kings: para uma equipa que acaba de ter um ano em sub-rendimento, esta troca faz sentido. Livra-se de ter de pagar a Bogdanovic (têm já a sua dose de maus contratos nos livros, nomeadamente o de Harrison Barnes e o de Cory Joseph) e recebem Rose, um jogador que se adequará melhor ao plantel que têm – em vez de Bogdanovic lutar pelo lugar com Buddy Hield, causando má química de equipa, adquirem um jogador que sabe o seu papel, que é excelente nele e que é capaz de ganhar o prémio de melhor suplente do ano, tendo tido médias de 18 pontos e 5 assistência por jogo nos últimos dois anos. Além disso, têm o bónus de só assumir as obrigações contratuais dos dois jogadores durante uma época, sendo livre de proceder conforme o rendimento que ambos mostrarem.
Todos os fãs dos Pistons que estão a ler isto devem estar à espera da troca de Blake Griffin e dos 75 milhões de dólares restantes no seu contrato. Pois bem, penso ter encontrado uma troca possível: Blake Griffin e uma escolha de 2ª ronda em 2021 por Mike Conley e Tony Bradley. Esta troca parece não fazer sentido para nenhum dos lados, à primeira vista, mas vejamos porque não é assim:
Para os Pistons: esta troca trata-se apenas e só de se verem livre dos 38 milhões de dólares do contrato de Blake na época 2020-2021, visto que o contrato de Conley acaba um ano mais cedo. Como bónus, têm um dos melhores point guards da última década que, embora já não esteja à altura do título, não perdeu a sabedoria e seria isso o fundamental para ser mentor do recém-chegado à liga Kilian Hayes e ensinar-lhe tudo o que sabe para acelerar o seu crescimento. Tony Bradley seria aqui apenas um mero cumprimento da regra da igualdade salarial nas trocas, mas serviria como suplente na época seguinte para Wood.
Free Agency
A época de Free Agencyé a altura em que os jogadores cujo contrato acabou ouvem propostas de equipas que querem contar com os seus préstimos. O principal argumento costuma ser o montante salarial oferecido, bem como a situação da própria equipa.
Nesta época, não estaria preocupado em conseguir nenhum dos jogadores disponíveis, antes em garantir continuidade na equipa. Assim, seria importante garantir a continuaçãode Christian Wood, que esteve em grande a acabar a temporada, mostrando grande potencial e sendo o poste perfeito para a nova NBA, centrada no lançamento exterior e na capacidade de defender o maior número de posições possíveis. Seria razoável um contrato na ordem dos 35 milhões de dólares ao longo de 3 anos. É certo que não é um grande contrato, mas falamos dum jogador que só agora, na passagem pela sua 6ª equipa, se afirmou na liga. Demonstra potencial e é nisso que os Pistons apostariam.
Para preencher o vazio deixado por Blake Griffin, assinariam os Pistons com Kelly Olynyk um contrato a rondar os 20 milhões por dois anos, sendo o suplente de Doumbouya, rookie que não cumpriu o potencial que mostrou ao entrar na liga, mas em que os Pistons parecem depositar confiança.
Seria importante ainda dois jogadores para completar o plantel, um base e um extremo/poste. Assim, seria adequado a esta equipa assinar, por contratos mínimos, de uma época, com alguém como Raul Neto e Mike Muscala (ou quaisquer outros dois, dentro dos mesmos moldes).
Como última manobra, seria benéfico para esta equipa contratar um treinador mais virado para a juventude, que consiga fazê-los crescer, não estando tão preocupado em vencer, mais em desenvolver. Alguém como Kenny Atkinson seria o ideal (ou até o próprio, que está disponível). Dwayne Casey é um bom treinador, foi até Treinador do Ano em 2018, mas não tem tanto jeito para desenvolver jovem talento como para vencer jogos. É certo que uma cultura vencedora é o que é preciso criar, mas Kenny Atkinson parece ter criado isso mesmo em Brooklin ao mesmo tempo que realizou o potencial de todas as suas jovens estrelas.
2020-2021
Possível equipa e eventual distribuição de minutos

Esta equipa não vai vencer muitos jogos. Falta muita experiência, liderança, capacidade de decisão. Mas não faz mal! Vai ser um ano para desenvolver os jovens jogadores vão ter muitos minutos (como se vê na imagem abaixo), vão poder aprender através dos seus erros e vão crescer de maneiras que não eram possíveis se estivessem numa equipa com aspirações mais altas. Além disso, vai garantir aos Pistons uma boa escolha no Draft de 2021.
Esta equipa tem bom potencial. Um backcourt potente ofensivamente, embora precisem de desenvolver muito na parte defensiva, um excelente marcador em Bogdan, capaz de distribuir o jogo e de ser o go-to guy nos últimos minutos dos jogos e dois bons, altos, atléticos defesas em Doumbouya e Wood, tendo este último um toque delicado ao pé do cesto. Têm aqui um protótipo ganhador, capaz de ser uma boa equipa ofensivamente. Para a parte defensiva, têm no banco alguns dos melhores defesas nas suas posições respetivas: Conley, Olynyk e Bradley. Será um ano de aprendizagem e de evolução, que servirá de base para o futuro sucesso.
Que jogadores saem.
No verão de 2021, acabará contrato Mike Conley, Svi Mykhailiuk, Tony Bradley, Raul Neto e Mike Muscala.
Draft – que picks e o que fazer com elas
No Draft de 2021, os Pistons teriam a sua escolha na primeira ronda, perto do topo, a julgar pela sua equipa. Assim, alguém como Jalen Green (shooting guard ao estilo de um jovem Ray Allen e de Clyde Drexler, capaz de marcar a bola de qualquer forma, esforçado na defesa e com toques de playmaking), que está projetado para ser escolhido no top-3 em 2021. Será o jogador certo para completar a equipa de Detroit, tendo potencial para evoluir na liga, tornando-se talvez o base titular ao lado de Hayes, providenciando a tão desejada defesa, não deixando de lado o poderio ofensivo. Seria até benéfico que conseguisse, anos volvidos, tirar o lugar de titular a Kennard, ficando este como um excelente suplente de luxo.
Free Agency
Neste período, no verão de 2021, os Pistons terão um espaço salarial de 30 milhões de dólares. Como ainda estão a tentar desenvolver todos os seus jovens, não será a altura para gastar o dinheiro em superestrelas que não conseguirão ter impacto suficiente na coluna de vitórias, vindo estragar o crescimento do resto da equipa. O ideal seria tentar ‘roubar’ um jovem jogador a outra equipa, através dum contrato um pouco acima do seu valor.
O alvo principal seria Zach Collins, dos Trailblazers. Penso que será suficiente um contrato na ordem dos 35 milhões por 3 anos para o adquirir. Serviria assim como power forward suplente (talvez até titular), passando Kelly Olynyk para o papel de poste suplente, atrás de Wood.
Além de Collins, para base suplente, ofereceriam os Pistons um contrato de 45 milhões por 3 anos a Monte Morris, que já mostrou ser um suplente muito capaz, bom marcador, com capacidade distributiva e que não é um desastre na defesa. O contrato iria liga-lo a Detroit nos seus anos 25, 26, 27, pelo que está ainda dentro do quadro da restante equipa. Penso ser este um contrato razoável, que garante os serviços de um suplente que se destaca nesse papel, como tem vindo a fazer em Denver.
Por fim, como contratos mínimos, de um ano, trariam de volta a casa Boban Marjanovic e Ish Smith, bem como assinariam com Timothé Luwawu-Cabarrot, para preencher o plantel (ou quaisquer outros três jogadores nestes moldes).
Seria também uma boa ideia renovar contrato com Luke Kennard, que já se deverá ter provado como um excelente marcador (como o fez na época de 2019-2020), mas não o suficiente para exigir um contrato máximo. Assim, deverá ser suficiente um contrato de 3 anos por cerca de
2021-2022
Plantel e eventual distribuição de minutos

Estamos no último ano deste plano. As mudanças estão concluídas e, embora esta equipa não acabe com um plantel capaz de chegar longe nos playoffs, está completamente preparado para o futuro. Tem jovens estrelas capazes de desenvolver (Hayes, Kennard, Green, Doumbouya, Wood, Collins), jogadores capazes de preencher perfeitamente os papéis que lhes sejam confiados (Bogdanovic, Morris, Olynyk, Brown) e uma irreverência jovem e vontade de dar finalmente ao franchise de Detroit um rumo certeiro. Nestes dois anos operaram as mudanças certas para uma jovem equipa a subir, tanto a nível de jogadores, como de contratos, como de treinador. A partir daqui, é só esperar que todos cumpram o seu potencial, que esse potencial comece a transformar-se em vitórias e que essas vitórias atraiam cada vez melhores jogadores.
Esta equipa fica ainda numa boa posição a nível salarial, com a flexibilidade para se adaptarem ao que a liga lhes trouxer, a tudo o que possa acontecer em relação a equipas ao seu redor e a jogadores que se tornem disponíveis: têm 20 milhões disponíveis em 2021-22; 20 milhões disponíveis em 2022-23 e cerca de 50 milhões disponíveis em 2023-24
Seria assim que conduziria esta equipa para fora da No Man’s Land.
Espero que tenham gostado deste formato e agradeço desde já pelo feedback: estou ansioso por saber que outros planos teriam para esta equipa e com o que é que concordam e não concordam.
Artigo de opinião escrito por Tiago Belinha
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